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Reflexões sobre os espaços educacionais e a comunidade LGBTQIA+

Por Mainara Thaís - Educativo




Não é de hoje que presenciamos a maneira que assuntos como sexualidade e gênero são tratados na educação. Muitas vezes enquadrados como tabu, tais temas são tratados como pouco prioritários ou até mesmo sem relevância pedagógica. Nos últimos anos, o processo de polarização política e o aumento da disseminação de notícias falsas só intensificou a aversão massiva a essas temáticas no panorama educacional brasileiro.


Entretanto, ao nos afastarmos de uma discussão presente no cotidiano escolar, os efeitos adversos são imediatos: com a naturalização da heteronormatividade, cisgeneridade e reafirmação dos papéis atribuídos a expressões de gênero, tudo o que foge dessas construções passa a ser considerado como errado. Pior do que isso, todas as inúmeras outras formas de vivência e expressão são descartadas e abrimos os precedentes para a construção de "não-lugares".


Situações de bullying, preconceito e discriminação com a comunidade LGBTQIA+ são relatos comuns marcados pela falta de espaços inclusivos e a sensação de não-pertencimento. Muitas vezes essas ações são interpretadas como “comportamentais” ou “circunstanciais”— quando, na verdade, fazem parte de um cenário muito maior que constrói, mantém e replica os preconceitos. Segundo o último levantamento feito pela ABGLT em 2016, por exemplo, 60% dos/as estudantes LGBTQIA+ participantes se sentiram inseguros/as na escola no último ano por causa de sua orientação sexual e 43% se sentiam inseguros/as por causa de sua identidade/expressão de gênero.


Outros relatos muito explorados na pesquisa estão relacionados às agressões verbais e físicas comumente vivenciadas, à falta de acolhimento da comunidade escolar, às questões de saúde mental e à dificuldade de acompanhar as aulas em meio a um contexto delicado para a socialização. As sensações de insegurança e não-pertencimento têm impactos diretos no nível de ensino-aprendizagem e nas taxas de evasão escolar.


A escola faz parte da dinâmica social de maneira muito específica, participando diretamente da criação de repertórios que naturalizam nossas visões sobre o mundo e suas particularidades. Assim, ao entender a importância da diversidade, é fundamental que nos afastemos de pré-noções limitantes e nos responsabilizemos pelo enfrentamento dessas questões. Isso pode ser feito por meio da criação de canais de denúncia e acolhimento, realização de rodas de conversa, produção de atividades e adoção de materiais didáticos que trabalhem a diversidade, além da propiciação de ações e projetos que busquem desnaturalizar as concepções sobre os papéis de gênero e sexualidade.


Como a falta de informação é um ponto agravante nos processos de silenciamento e violência, também é importante estimular a busca por fontes seguras e o esclarecimento de notícias falsas, levantando sempre a interação e o engajamento da comunidade escolar. Outra ressalva necessária é em relação às violências simbólicas e não-simbólicas que podem ser intensificadas ao encontrarem outros marcadores sociais. Nesse sentido, trabalhar a interseccionalidade além da diversidade é muito necessário.


Se considerarmos um panorama histórico, muitas conquistas para a comunidade LGBTQIA+ aconteceram, de fato. Mas a verdade é que esse é só o começo, ainda existe muito para se caminhar e é importante reiterar que esse caminho é feito coletivamente. A criação de espaços de escuta ativa nos ambientes educacionais é mais que fundamental, é urgente. Precisamos entender os espaços de ensino e aprendizagem como ambientes de apresentações diversificadas, criações de repertório que considerem a realidade e não padrões engessados. Jamais superaremos as questões existentes enquanto as tratarmos como "tabus". As existências não podem ser 'toleradas', elas devem ser consideradas, legitimadas e incluídas.








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